Gozo o doce sabor do orvalho.
O filho que não abortei;
o poema que escrevi apenas no pensamento,
a borboleta que foge.
Gozo porque é o gozo que propaga a vida.
O útero que cai ao chão,
o ar empoeirado
de tudo aquilo que não fiz.
Algodões nas narinas,
vendas nos olhos,
navalhas no peito.
Gozo toda a minha imperfeição.
Pernas de elefante, tronco de elefante.
Sustento o mundo.
Destruo o mundo.
Flores de plástico e
teias de aranha brotam nos meus pés.
Chove todas as tardes,
Floresce apatia.
A noite chega e eu gozo.
Misto de água e falta de ar.
Seiva petrificada.
Não há vida.
Gozo e me enterro na lama.
Afundo.
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