Escrevo cartas de amor para a tua cadeira vazia. Gris, distante, no outro hemisfério da sala.
Escrevo porque é o que me restou fazer em dias assim, quando o vazio ecoa marasmo.
Escrevo sonetos ao porta-retrato, que não te conheceu, mas te aguarda;
entre um gole e outro, como um marujo borracho.
Escrevo estrofes para a maçaneta da porta, que te espera cardíaca.
Nessa ficção embriagada, te imagino objeto. No objeto, te emolduro.
Escrevo versos, poemas, odes. Nenhuma palavra rima com a sua ausência.
Escrevo para-que-retorne-para-que-não-volte-para-que-morra
(e, de alguma forma, se faça presente).
Escrevo, enquanto a tua carne cai ao chão, seus ossos liquefazem-se.
Enquanto escrevo, te apago, te engulo.
E você entraysai do meu pensamento.
Mas nessa angustia, você se torna caligrafia; seu semblante, garrancho.
Te amasso, te dobro, te selo e engaiolo em uma gaveta nas amargas entranhas leñosas do meu peito.
Incesto entre o coração e os olhos. Não te vejo mas quero te tocar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário